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PARA ONDE CAMINHA A ADVOCACIA

Começo hoje a escrever uma coluna semanal neste prestigiado periódico, honrosamente convidado pelo seu editor, Edvar Freire Caetano, meu prezadíssimo colega do Banco do Brasil. Como disse a Edvar, não sei se conseguirei suprir semanalmente esse espaço, por isso sugeri que o titular da coluna fosse a ADVOGAR, uma empresa que criei, juntamente com minha filha e também advogada Clarisse Ribeiro, mais Thais Salgado, Mauricio Matias e Emanuel Barbosa, que se somarão no cumprimento da prazerosa tarefa, dividindo comigo a difícil responsabilidade de falar para advogados. Entendo que esse dialogo semanal deve ser frugal mas interessante, por isso tentarei: não ser professoral; não pretender dizer sobre o que não sei; ser direto na forma e no conteúdo; ser verdadeiro em tudo o que eu disser; não ofender quem quer seja, fazendo minha a súplica de Hamlet: se a palavra sair demais pesada, minha alma, não lhe dês forma adequada. Dito isso, vamos ao tema de hoje.

Tenho me perguntado para onde vai a advocacia como profissão, diante das profundas mudanças pelas quais estamos passando. O mundo atual cabe num telefone celular. A ele estamos tão profundamente ligados que dele não conseguimos ficar distantes por muito tempo durante o dia. É com ele que dividimos mágoas, alegrias, o nosso tempo livre, o nosso tempo útil, enfim, nele a vida acontece. Mas o celular é apenas o instrumento mais portátil de uma revolução tecnológica que modifica os costumes e que tende a se aperfeiçoar tanto mais quando pretende substituir o pensamento humano e tornar o ser pensante um mero adereço de um corpo novo.

Como essa (r)evolução não se restringe ao entretenimento, ela ocupa sem reservas todos os espaços da vida humana, facilitando-a, é verdade, mas também nos obrigando a conviver com inúmeras atividades às quais não estamos acostumados. Vivemos um tempo tão novo que nem mesmo a genialidade de Orwell conseguiu prever a sua real extensão, quando, há 70 anos atrás, concebeu o Grande Irmão.

Nesse contexto a advocacia, como atividade profissional, assim como todas, rigorosamente, todas as demais atividades profissionais, também sente a mudança e se transforma para continuar a marcar o seu espaço de atividade essencial, um pêndulo da civilidade em qualquer que seja o meio e a forma de organização política do grupamento humano.

Essa adaptação exige de nós, profissionais do Direito, uma visão panorâmica capaz de nos possibilitar a inclusão para continuar com a importância que o advogado detém na sociedade. Ao longo do tempo a atividade humana, que constitui o âmago da atuação do advogado, operou a transformação da petição da caligrafia esmerada para a máquina de datilografia manual, depois a elétrica, depois o computador e, mais recentemente, para a inteligência artificial, que substitui não apenas a atividade motora do advogado mas o seu próprio pensamento!

Quando eu virava as noites, no inicio da minha carreira, na elaboração de uma petição, de um recurso, de um contrato, pesquisando lentamente nos repositórios de jurisprudência os precedentes que me seriam uteis àquele caso, jamais poderia imaginar que essas atividades estariam – como já estão – a um simples toque de uma tecla!

Quem, como eu, acostumou a cultivar a empatia com professores que eram verdadeiros ídolos de todos nós, a exemplo dos saudosos Fontes de Alencar, Arthur Deda, Antônio Gois, Jussara Leal e tantos outros que me fizeram querer ser como eles, teria dificuldade em se adaptar às aulas remotas, com professores que se comportam como atores e animadores de auditório, em vídeos seriados que levam saber aos alunos de hoje e que se fazem importantes porque o ensino do Direito passou a exigir essas novas formas e habilidades. Se são iguais, melhores ou piores que os antigos mestres não vem ao caso. Importa saber que os tempos modernos exigem essa agilidade, essa pressa e que, tanto como antes, as aulas de Direito não ensinam a advogar, embora ensinem a ciência do Direito, que é algo bastante diferente.

A advocacia atual exige formação em áreas antes inexistentes, tais como informática, comunicação, mídia eletrônica, sistemas processuais virtuais, enfim, novos tempos, novas exigências. Interessante perceber que, apesar da virtualização do processo em todos os tribunais do país, dispensando as longas caminhadas e esperas em cartórios para ter acesso aos processos e facilitando a consulta aos autos e a prática de todos os atos processuais dentro do seu escritório, o advogado já não trabalha mais na solidão da sua sala. A advocacia atual exige a atuação em grupos, daí a proliferação das sociedades de advogados. Foi pensando nesse contexto que decidi criar a ADVOGAR, uma oficina de advocacia que pretende inserir os advogados sergipanos nesse novo tempo.

A ADVOGAR não pretende ensinar Direito, mas como seu nome indica, é uma oficina, onde vamos aprender a advogar em tempos modernos, com metodologia condizente e com professores de alto gabarito, que aqui virão partilhar esses novos conceitos. Aguardem os próximos capítulos.